quinta-feira, abril 22, 2004

A Última Senna

1 de Maio de 1994. Foi há 10 anos. Lembro-me como se fosse hoje. Lá fora os meus pais e os meus avós alinhavam numa sardinhada. Às duas em ponto saí da mesa apressado. Estava a começar o grande prémio de San Marino. Liguei a TV mesmo a tempo da partida. A Williams não era a minha equipa, mas admirava a capacidade de evolução do team britânico. À sexta volta, o Williams do Ayrton seguiu em frente na famosa curva Tamburello. O embate no muro de betão aconteceu a mais de 220 km/h. Embora à data nunca tivesse entrado em competição, os mais de 10 anos que já tinha de contacto directo com a F1 chegaram para perceber que algo estava muito errado e que um piloto nunca iria em frente sem qualquer tentativa de correcção da trajectória. Cedo percebi também que aquele era um fim-de-semana fatal e que a Fórmula 1 tinha de mudar. Não sei bem porquê, sempre fui adepto do Prost, pelo que não torcia pelo Ayrton. Admirava o estilo e a frontalidade, comprovada nas duas vezes em que, ainda adolescente, com ele troquei breves palavras no Autódromo do Estoril. Mas, naquele momento, senti um arrepio dentro de mim. A notícia confirmada vinha tingir de luto o mais admirável dos desportos. No dia anterior, a F1 perdera também o Roland Ratzenmberger, num estúpido acidente durante os treinos. Horas antes da partida, o Senna disse numa entrevista a um jornalista italiano que a fórmula 1 estava a evoluir demasiado depressa e que era preciso pôr um travão, porque estava a ficar demasiado perigosa. Hoje a F1 está mais segura, graças ao Senna. Hoje a F1 está igualmente rápida, graças ao Senna. Nem interessa se ele foi melhor que Fangio e Schumacher. Talvez não... mas era diferente. Era aquilo que qualquer piloto sonha ser. Um homem determinado a vencer, com instinto e muito talento. Este fim-de-semana, durante o GP de Ímola gostava que todos se lembrassem do Senna. Que é por causa dele que a Tamburello já não é tão rápida e tem uma escapatória maior, que é também por causa dele que a F1 continua a ser um desporto mítico. A única vez que rodei no bólide mais incrível do mundo lembrei-me das suas palavras: "Não há palavras para descrever, a deslocação do vento, o ruído do motor, a aceleração e a brutal capacidade de travagem. A F1 é isso tudo e muito mais. Só mesmo experimentando." Ele tinha razão.
Dez anos depois a estrela brilha, cada vez mais alto. Obrigado Ayrton!

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