segunda-feira, setembro 29, 2003

A Tribo dos Stones

Isto hoje já está melhor. No fim-de-semana houve tempo para tudo menos para dormir. Foi em grande. Ainda bem que o novo estádio de Coimbra não foi inaugurado com as costumeiras misérias do futebol português. Quem lá esteve na noite de Sábado assistiu a um dos melhores concertos de sempre. Os Stones são considerados a maior banda Rock do mundo. Quem discorda que encontre alternativas!
Antes passaram pelo palco os Xutos. Cumpriram, sem revelar um provável nervosismo pelo enquadramento. Não pela multidão que a essa já estão habituados. Depois foi tempo de sentir pena dos Primal Scream. Tocaram perante uma plateia congelada. Um quadro de miséria. Para quem conhece os Primal, nem estavam mal. Fizeram o que lhes competia, com um som fraco... para que o áudio da banda principal pareça ainda melhor. O mundo do Rock tem coisas cruéis.
Mas os minutos passaram e com 25 minutos de atraso os Rolling Stones subiram ao palco com a mesma energia que tinham há 20 ou 30 anos, mas com um estatuto de super-estrelas. Mas em palco estava um grupo que, passados estes anos se dá ao público por inteiro. Para quem viu as imagens possíveis na SIC, o palco tinha uma passadeira estreita que rompia pelo “relvado” e dava acesso a um pequeno palco, mais ou menos no centro do estádio. E sempre que usavam a passadeira os Stones dividiam-se entre saltos e correrias e apertos de mão aos fãs, que deliravam. Tanta mãozinha por lavar...
Não é fácil resumir 40 anos de carreira em 2 horas. No alinhamento faltam vários clássicos, mas o que se escuta é do melhor que os Stones fizeram. Talvez por isso, o grupo ensaio para esta tourné nada menos que 120 canções. Talvez por isso, o alinhamento muda consoante o espaço e o país onde estão a tocar.
O palco que a banda arrasta é um concentrado de tecnologia. São 60 camiões TIR para criar o melhor som e imagem. O início do espectáculo, ao contrário do que seria de esperar, não tem grande encenação. Nem há ecrã gigante, o que nas bancadas deixou os mais míopes em fúria. Depois, o ecrã lá nasce ao terceiro tema, uma espécie de VIDI por elementos, cujo nome desconheço, mas que vale uma pequena fortuna. Dividido em 4 no princípio, a mostrar os 4 históricos, depois foi assumindo diferentes posições e enquadramentos. Muito bom. Da música propriamente dita é melhor não falar muito, senão fico aqui o dia todo. O momento alto do espectáculo acontece com a banda no palco pequeno e o principal completamente às escuras. Sem grande tecnologia, só a amplificação, o grupo arranca para 3 temas “à moda antiga”. O primeiro só podia ser “It’s Only Rock’n’Roll!”. Foi uma recriação de um concerto histórico dos Rolling Stones, na Wembley Arena, em finais da década de 60. Valeu, principalmente para os espectadores contemporâneos.
Duas horas e pouco depois os Stones foram embora. Quem veio de fora de Coimbra teve de esperar sentado, no carro. É que a cidade provou não estar preparada para um grande evento. As entradas e saídas ficaram completamente bloqueadas. Houve boa vontade mas não chegou. A mim valeu-me a ajuda de alguns amigos e uma boa dose de intuição. Escapei ao caos, mas foi por um triz. No regresso, pelo caminho, dei comigo a pensar como vai ser no Euro 2004. E Coimbra está longe de ser um caso isolado.
Mesmo assim, até quem só chegou a Lisboa ao nascer do sol continuava a dizer que valeu a pena.
A World Licks Tour tem qualquer coisa de despedida, embora dos Stones tudo seja de esperar. Seja como for é o fim de um ciclo. Está a terminar a tourné. Hoje tocam em Saragoça. Os Rolling Stones saem mais uma vez renovados. Conquistaram novos fãs, alguns com menos 30 anos que o grupo. A tribo dos Stones continua a crescer. Se vão continuar nómadas ou assentar arraiais só eles sabem.

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